Descrição enviada pela equipe de projeto. O bairro de palafitas Pedro Montt, na cidade de Castro, Chiloé, é um dos bairros mais antigos e característicos da cidade, da grande ilha e também do Chile. Avançando em parte sobre o mar, onde não há regulamentação - só os códigos internos de uma comunidade que esteve por anos sobre a borda costeira - o bairro manifesta um caminho, um modo de morar, uma cultura.
A cidade de Castro apresenta mudanças em alta velocidade, muitas relacionadas ao turismo, e com isso este bairro começa a se desenhar como um dos pontos mais atrativos para os visitantes da ilha de Chiloé. Diferentes empreendimentos privados associados à área revitalizam com força um bairro degradado, exonerado e marginal aos olhos das autoridades locais; visão que vai contra sua força e encantamento que atraem vários viajantes de diversas partes do mundo, com o olhar livre de preconceitos de identidade cultural.
Iniciativas privadas permitem que muitas dessas construções hoje em dia abandonadas e muito deterioradas possam ser reutilizadas, sendo recuperadas ou reconvertidas, onde convivem o bairro tradicional, os hotéis e os viajantes.
Esta situação produziu um fenômeno de ordem sociológica que temos visto nos últimos dois anos: uma vez concluída a obra, acontece uma "auto revitalização" das pessoas de seu bairro.
Este fenômeno, já visto em outros lugares particulares do Chile, como por exemplo Valparaíso, criou de forma tangencial e sem apoio estatal uma reconsideração de seu espaço próprio, sempre visto como marginal e pobre, e com isso criando também um cuidado do espaço comum e do próprio, de suas casa, o respeito de pessoas externas a seu meio.
O encargo do projeto foi, a pedido do proprietário, projetar um hotel boutique que fosse uma experiência da vida em Chiloé, conservando o espaço da antiga palafita, onde todos os dormitórios tivessem vista ao estuário de Castro, e onde a maré estivesse presente em cada canto do projeto. É importante mencionar que em Chiloé as marés baixam e sobem drasticamente e a arquitetura deve portanto levar em conta este fenômeno.
É assim que da proposta, considerando o encargo em jogo, surge a ideia de uma palafita composta por apoios desiguais, que em sua totalidade compõem uma paisagem unitária, mas ao mesmo tempo dispersas e organizadas em torno da vida do mar e da composição em colagem que forma sua somatória - diversas cores, formas e texturas próprios de seu entorno.
Uma via central iluminada por uma claraboia linear alimenta os distintos recintos ao longo dela, cruzando consecutivamente os distintos "limites do mar", desde onde se observa a maré a partir do interior da palafita, para concluir finalmente no princípio do projeto um estar comum, junto ao fogo, de acolhimento de seus hóspedes, para o encontro dos canais e da cultura de Chiloé.